quinta-feira, 26 de abril de 2012

Toda grávida precisa de um corrimão e uma boa novela para acompanhar.

Há dias venho pensando no volume de temas do "universo BARRIGA" que tenho em minha cabeça e quero abordar nos meus posts. Foi exatamente essa riqueza de assuntos e tudo que gira em torno de uma gestação e sua dualidade que me levou ao palco com " Meu Trabalho é um Parto" e seus derivados que agora chamo de "filhos do parto". São eles o livro, o blog, projeto de programa para Tv e documentário.
Depois de ler um comentário que fizeram no último post, fiquei com muita vontade de escrever sobre  a escolha de nomes dos filhos que também é um "capítulo" da peça e um muito importante na história de uma grávida.
Mas decidi que esse fica para depois mesmo. Eu havia me comprometido a escrever sobre o SEGUNDO TELEFONEMA.
Vamos voltar a quarta feira passada, eu acabava de desligar o telefone após falar com o Jô e chorava no colo do meu marido que vem suportando lágrimas salgadas a beça que saem deste meu corpo redondo e cheio de varizes ( minha obsessão) quando percebo no meu celular o símbolo de uma mensagem de voz.
- Oi Veridiana , quem fala é Helena Galante repórter da Veja. Estou fazendo uma matéria de capa para o dias das mães, o assunto é Mães Blogueiras e eu gostaria muito de fazer uma entrevista com você. Meu telefone é XXYYZZKK e eu espero seu retorno.
" Olha só amor, é a Helena Galante da Veja. Lembra dela? Ela fazia crítica de espetáculos infantis e escreveu sobre a gente mais de uma vez. Está fazendo uma matéria para o dia das mães e serei uma das 'personagens' da matéria."
- Você é danada né Veri ? Depois fica aí se lamentando que as coisas não acontecem para você... Aí, conseguiu o que queria, uma matéria no dia das mães na VEJA. Queria uma feita pelo Dirceu falando sobre a peça e conseguiu uma com a Helena falando do Blog. Tá feliz agora ?
- Tô! Tô feliz sim, mas eu queria fazer a peça com o Jô...
Ligo para o telefone que Helena deixou no recado e lógico, ninguém atendeu! Jornalistas trabalham muito, muitas vezes de madrugada, mas ás 23:00 hs de uma quarta sendo que a matéria sairá no dia das mães não tem para que a Helena ficar na editora Abril até tão tarde.
Nos falamos no dia seguinte, marcamos a entrevista na minha casa na tarde de segunda feira da próxima semana.
"Legal ! Helena vem ás 15:00 hs , o fotógrafo ás 19:00 hs... ai ai ai meu Deus. Marquei a instalação do corrimão na parte da tarde também. Vou dar a entrevista com os técnicos fazendo barulho de furadeira..."
Grávidas precisam de corrimão e na minha casa ainda não tinha. O último item que faltava. E grávidas precisam de Memorex ou de muito peixe ou de Ômega 3 pois são incapazes de registrar muitas coisas na memória e de FOCAR. Mas deixo o tema "memória" para outro post. Não falei que o "universo barriga" é muito rico ?
Sexta feira daquela semana percebo que a pia da cozinha está lenta para escoar a água. Dou uma fuçadinha, uma bombadinha com o desentupidor e percebo que ela piorou muito... mais ainda... parou geral... ENTUPIU DE VEZ !
Sábado foi feriado de Tiradentes e nenhum encanador sequer atendeu o telefone.
Domingo é o sétimo dia e foi reservado para descanso pós criação.
Segunda feira: dia de concertar a pia mas nosso carro ficou enciumado e queria uma atenção toda especial  só para ele. Resolveu pifar também.
Ás 8:00 hs da manhã tinha um guincho na porta de casa levando o carro para uma oficina mecânica. Eu tinha ginecologista ás 11:30 hs, e a tarde tinha corrimão, Helena e fotógrafo. Isso era o que eu pensava...
O coitado do meu amor teve que faltar na faculdade que dá aula para resolver a história do carro enquanto eu ia para casa da minha mãe de metrô pegar o carro dela para poder ir ao médico.
Viva as mães, pelo menos a minha, que está sempre PRONTA para me ajudar!!! Viva !!! Viva a mamãe Regina !
Meu médico nunca atrasa. Naquele dia ele atrasou !
Sai do médico no Itaim ás 13:50 hs e fui para a Pompéia, comi uma mixirica, os caras do corrimão já estavam em serviço, dei uma organizada na casa para receber a Helena e logo mais a campainha já estava tocando.
"Nossa! Que pontual essa jornalista, coisa boa ! Minha explicação de como chegar aqui é realmente eficiente... 15:00 hs em ponto!"
Com Helena falei sobre a minha vida toda pois ela começou me perguntando como conheci meu marido e como começou nosso casamento!!! E como tudo na minha vida é uma novela, já viram o tempo que a entrevista durou. TRÊS horas. Durante três horas falei sem parar sem respirar, sem beber água ( o que é um absurdo e raro pois minha garrafinha de água é minha grande companheira de jornada gravidez) e só com uma mixirica no estômago.
Relembrei e revivi passagens da minha história que hoje me fazem ser quem sou e como sou. Falei de coisas muito íntimas e revelei "segredos" de adolescência e juventude.
Pensar na linha do tempo que teve início quando eu comecei a criar o espetáculo " Meu trabalho é um parto" e como tudo se desenrolou, me possibilitou organizar as idéias e refletir novas possibilidades de POSTS, PARTOS, PRATOS, PLANOS...
Porque os PRATOS no meio de PARTOS e PLANOS ?
Porque eu cozinho e falei rapidamente sobre minha passagem pela cozinha.
No meio de tudo isso os caras do corrimão se retiraram de cena, meu marido foi a pé ao mecânico buscar o carro com seu joelho "recém" operado e frágil e logo a campainha toca com os encanadores e seus apetrechos para salvar a minha pia e minha vida doméstica.
O telefone tocou 2 vezes e não atendi. Um número não conheço, o outro é Poliana minha amiga do Lar Express. Ela pode esperar, estou com a jornalista da VEJA !!!
Da pia começou a sair um cheiro medonho e uma borra preta nojenta que parece COCO. Um barulho insuportável do aparelho de desentupir e meu marido com sua potência vocal de grande ator em diálogo com os novos personagens recém chegados à cena.
Levei Helena para conhecer minha casa, mostrei roupinhas do Ian, dei um livro com dedicatória de presente e nos despedimos. Eram 18:00 hs. Galdino meu marido tinha que sair para dar aula, o serviço dos encanadores tinha acabado mas meu dia ainda não. Eu tinha a cozinha para limpar e tudo que fica no armário em baixo da pia para arrumar, maquiagem para fazer pois o fotógrafo ia chegar, e alguma coisa eu tinha que comer !!! A mixirica passou o dia sem amigos no estômago! Eu nem estava com fome, mas grávidas precisam comer de 3 em 3 horas.
"Ai que nojo essa coisa preta podre nojenta no chão, no armário, nos meus tupperwares ! Uma grávida não merece limpar sujeira de esgoto de pia entupida"
Alguém já viu uma grávida subindo escada, amarrando um sapato ou fazendo faxina ? Já tiveram o "prazer" de ouvir a respiração ofegante de uma pançuda de plantão?
No final da limpeza e arrumação eu já não suportava mais me ouvir respirar.
Me maquiei e comecei a preparar algo para comer quando o fotógrafo chegou.
"Nossa ! Que Pontual ! Esses profissionais da Veja heim ? Que maravilha de pontualidade."
Mostrei minha casa , meu quarto e opções de foto para o Fernando. Muitas ele não gostou, mas a que gostou e valeu foi : Veri, dentro do berço do Ian com quadro da arte do espetáculo".
Ás 20:00 hs Fernando deixa meu lar com sua super câmera e guarda chuva de flash no carro com motorista da Editora Abril e adesivo " REPORTAGEM" no capô  e eu fiquei com meu prato de arroz, feijão preto, bolinhos de carne moída feitos em Minas pela Maria José, abóbora refogada e salada.
"Agora vou comer. Que delícia! E depois não tem mais nada para fazer. Sentarei no sofá, vou sentir o Ian dançar dentro de mim e ver AVENIDA BRASIL. Obrigada João Emanoel Carneiro, você nem sabe da minha existência mas gosto de acreditar que seus colaboradores e você estão escrevendo a novela para mim, pensando em mim e na minha gravidez."
Meu celular toca.
" Que número é esse? Ai meu Deus... quem será ? Ainda bem que ainda não começou minha novela."
- Oi Veridiana, boa noite. Quem fala é Marina. Sou jornalista da Band News Fm e gostaria muito de te convidar para fazer parte do programa Alta Frequência que vai ao ar ás sextas feiras das 17:00 hs ás 19:00 hs. São 2 horas ao Vivo de programa e como o tema é relacionado ao dia das mães, achamos que você tem tudo a ver. Você topa? Vamos ter que fazer uma pré entrevista agora, tudo bem?
Fiquei no telefone até 21:00 enquanto o arroz e feijão me esperavam esfriando no prato e provavelmente pensavam: " Como ela fala não ?".
Depois de comer fui procurar saber quem havia me ligado nos dois telefonemas não atendidos durante a entrevista com a Helena.
Poliana além de querer saber o nome do Buffet de crepes que fez meu casamento me contou a triste notícia da morte  por afogamento do namorado de uma amiga que acabou de alugar apartamento para ir viver com o novo amor.
O outro telefonema era de um estúdio de locução. Eu tinha perdido um trabalho...
" Não acredito! Gastos inesperados com desentupimento de pia e carro quebrado e eu não atendo um telefonema com oferta de trabalho? Meu Deus!!! Quero fazer a peça do Jô, Os donos da CULT que administram o Renaissance interromperam minha temporada em um e-mail e quero me vingar deles, preciso ganhar dinheiro para ajudar meu marido, quero fazer uma novela do João Emanoel Carneiro, esse feijão está me dando azia, meu nenê não está mexendo como de costume neste horário. Que saco tudo isso! Por que ? Por que? "
Um segundo mais e registro a notícia da morte do namorado da minha amiga e penso que minha azia e não fazer a peça do Jô são questões ridículas diante da morte por afogamento de um jovem recém " casado".
"Como sou ridícula e ingrata com a minha história. Valoriso pouco o que tenho, que vergonha de mim! Afinal, não é todo mundo que é 'personagem' de uma matéria de capa da Veja São Paulo depois de ser convidada para fazer uma peça com o Jô."
A novela começa, Marcos Caruso e todo o elenco conseguem me distrair e divertir afastando meus pensamentos tolos, medos e neuroses me envolvendo na trama bem construída por João Emanoel Carneiro.
"Que maravilha a forma como ele escreve para todos os atores. Todos os personagens são bons e bem desenhados! Quero fazer uma novela dele, quero trabalhar com esse cara e falar o texto escrito por ele. Pode ser que isso nunca aconteça e ele jamais saberá a relação que criei com sua novela na minha gravidez. Não! Ele precisa saber o que eu penso e sinto por Avenida Brasil... Ai meu Deus que azia... preciso alimentar meu "filho" Blog e fazer juz a ser matéria de capa... e o Jô?..."
Quando eu ia entrar em parafuso de novo e recomeçar com meus devaneios que não me levam a nada, Eliane Giardini desce a escadaria da casa de Tufão.
Lembro que ainda não havia utilizado os "serviços" do corrimão recém instalado na minha escada bem mais simples que da mansão de Tufão e penso:  "João Emanoel Carneiro, agora eu tenho um corrimão! Tenho sua novela e onde me apoiar  para subir e descer a escada. Toda grávida precisa de um corrimão e uma boa novela para acompanhar."

Ao acabar o capítulo da novela fui até a escada e testei meu corrimão. Ele é ótimo!