quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

"PUERPERLÂNDIA" - A cidade ideal das pós paridas.

Comecei a escrever esse post 3 dias antes de Ian completar 4 meses.
Isso já faz um mês !
Amanhã Ian completa 5 meses e não terminei o texto falando sobre seus 120 dias de vida...
Não posto nada há 2 meses e mais uma vez me sinto atrasada.
O pós parto e esta fase de aleitamento e dedicação absoluta a cria me faz sentir atrasada em muitas coisas.
Atrasada e aflita.
É tudo muito dual. O misto de felicidade e tristeza confundem as válvulas do coração que parecem bombar o sangue em sentido contrário.
Vivi um tempo em Cuba e ouvia quase que diariamente pelos cubanos a frase: " Todas las monedas tienen dos lados".
Como pensei nos cubanos com Ian pendurando em minhas tetas.
A Maternidade não é diferente.  Tem dois lados.
Laranjas não nascem em mangueiras e Ian, assim como seus pais, tem muita energia e como bom leonino requer atenção integral.
Dorme bem durante a noite, o que já é uma benção, mas durante o dia dá no máximo 3 cochiladas de 15 minutos a meia hora e com direito a comemoração.
Deixá-lo nas cadeirinhas ou no chão com seus brinquedos já funcionou, assim treinei-o desde seus primeiros dias de vida com consciência na ausência de ajuda em seus cuidados e distração, e também em função de seu peso que aumentou muito velozmente me criando fortes dores na coluna,bacia e lombar. Mas assim que completou 4 meses passou a querer nosso olhar constante sobre sua existência.
Deixá-lo ao meu lado enquanto escrevo por exemplo, já não é possível há muito tempo.
É preciso distraí-lo e diverti-lo SEM PARAR.
Começar uma atividade não relacionada a ele, seja ela qual for, e não conseguir concluí-la começou a me desgastar de tal forma que decidi  não tentar fazer mais nada, e que viveria em função de Ian por mais um tempo ou enlouqueceria com a frustração da não conclusão das tarefas iniciadas.
Com as férias muito próximas acreditei que deveria  começara a pensar um pouco em mim só em 2013.
Parei de tentar ler, escrever posts, escrever novos textos e elaborar projetos de teatro ou qualquer coisa que tomasse meu tempo e necessitasse minha concentração.
Fomos viajar!
Mas antes de falar sobre as férias e viagem com um bebê  que bem provavelmente ficará para outro post ( já estou devendo tantos...), tem todo meu devaneio do início da aterrizagem no planeta terra que no meu caso aconteceu com a conclusão dos 4 meses de vida do Ian.
Vamos lá!
Ao Ian!
Ao quarto mês de vida de meu Ian Rebento!
A mim !
A minha loucura e desequilíbrio, ou para quem quiser outra classificação, uma depressão pós parto tardia.
Passada a fase nebulosa em que parecia estar vivendo um sonho embaçado ou assistindo a um filme desfocado na tv entre dormidas no sofá da sala, começo a ter consciência de uma série de coisas, lamentar as escolhas mal feitas e as decisões mal tomadas.
Já falei sobre essa sensação de ausência de conexão com a realidade em outra ocasião. Sobre a memória nublada dos primeiros dias em casa na volta da maternidade com o novo integrante da família.
Não me lembro de muita coisa ou de quase nada!
Muitas pessoas me alertaram sobre a falta de memória no pós parto e só vivendo a experiência para entender o que é.
É ruim! Faltam palavras, o raciocínio é lento e confuso, nossa memória de alguma forma é o que nos conecta com nossa história e ficar com ela abalada me fez ficar um tanto catatônica, sem referências.
Mas isso não vem sendo o pior das reações puerperais, se é que existe esse termo.
Também já disse que se experiência fosse transferida eu abriria uma barraca aqui na frente de casa e venderia algumas maravilhosas que vivi.
Não adianta nada sermos alertadas de uma série de coisas. O fato de sabermos da possibilidade enorme de vivermos certas experiências , não nos prepara para lidarmos bem com a chegada delas.
Experiência se vive.
Não tem outra forma.
E só as vivendo para saber como lidar com o que elas nos fazem sentir.
Minha memória e inteligência parece terem ido embora na companhia da placenta e dos meus quase 2 litros de sangue perdidos no dia 17 de Agosto quando Ian nasceu.
Minha capacidade de organizar raciocínios e idéias chegou a um ponto preocupante.
Perdi noção total e absoluta das minhas ações e atitudes.
Falei coisas sabendo que não podiam nem deviam ser ditas, agi em desacordo com meus ideais, descordei das minhas convicções, confundi o inconfundível, esqueci o inesquecível, odiei o adorável e chorei chorei chorei chorei chorei chorei chorei chorei ... Ai meu Deus como eu chorei !
Me culpei me culpei me culpei me culpei por chorar chorar chorar com Ian nos braços e nas tetas... ai como eu me culpei.
O quarto mês de vida do Ian marcou uma fase de retorno ao mundo real e de um contato dolorosíssimo com a nova Veridiana que ainda não caiu nas graças da antiga.
Mas quem é a nova? Como era a antiga?
Pois é ! Ai é que está a questão.
Não sei !
Não sei de nada !
Não me lembro.
Tá uma baderna na cacholeta, uma confusão de dar dó de mim mesma; coisa que andei sentindo por mim muitas vezes.
Pena de mim.
Dó de mim.
Coisa desagradável de sentir.
A isso tudo, a essa enorme confusão e lágrimas deram o nome de DEPRESSÃO PÓS PARTO.
Demorei para acreditar que estivesse acontecendo comigo.
Minha mãe que é uma pessoa que adora diagnosticar depressões por acreditar ser mais fácil curar aquilo que tem nome, me alertou sobre a tal depressão ao final do segundo mês de vida de Ian.
Não dei crédito.
Comigo não ! Me preparei tanto para essa fase, quis tanto esse filho...
Comigo sim !
Não é patológico, é fisiológico, é hormonal.
Hormônio em dosagem alterada é veneno.
Depois de muita insistência da família fui á consultas psiquiátricas e psicoterapeuticas. A uma com o psiquiatra da minha mãe com que já estive há muitos anos e não me lembrava.
Ele sim se lembrava até da roupa que eu estava usando na primeira vez que nos vimos.
Sempre me gabei da minha memória...
A outra com uma psicoterapeuta corporal que direciona seu trabalho a gestantes e pós paridas.
Falar é sempre bom, sempre  me faz bem e saí das sessões de terapia um tanto melhor mas distante de me sentir "curada".
Mas... curada de que?
Não sei! Só sei que não estou em meu estado normal.
Será que vai ser assim para sempre?
Ser mãe é ser anormal ?
Somado a essa fase de arrependimentos e conscientização de muitas coisas relacionadas a nova realidade, um inferno astral do mais potente existente na galáxia me acompanhou por vários dias.
Minha culpa ao ler as mensagens de facebook pelos meus 38 anos anos me intoxicaram e catalizaram minhas dores de alma. Várias pessoas me escreveram " Esse deve ser o melhor aniversário da sua vida !" por causa do Ian.
Foi o pior.
Obviamente NÃO por causa do meu REBENTÃO hoje pesando quase 10 Kg.
Não vem ao caso relatar  quem potencializou toda minha angústia puerperal, mas no dia 10 de dezembro tive que ouvir sobre todos meus defeitos e características desagradáveis e o que muitos pensam a meu respeito. Essas enformações chegaram em mim como uma enxurrada que invade um barraco de madeirite durante um dilúvio clássico dos verões paulistanos.
Voltei para casa chorando chorando chorando chorando e  me sentindo cansada de mais.
Neste dia percebi o quão exausta estava e arrependida de não ter aceito as muitas ofertas de ajuda feitas por tanta gente, desde que Ian nasceu.
Esse foi um dos meus grandes erros.
Querer bancar a heroína.
Por achar que devo viver de acordo com a minha realidade, não tinha aceitar ajuda de ninguém.
"Para que ter gente em casa me ajudando por um período se não poderei ter essas pessoas ou outras para o resto da vida ? Tenho que me acostumar desde o início a cuidar da casa, de mim, do Ian , do meu casamento e do meu alimento da forma que será para sempre."
E a profissão ? E os cuidados com ela?
Sobre isso prefiro nem falar.
Eu deveria ter aceitado as ajudas oferecidas.
Não para os cuidados com o Ian pois esses eu não transferiria para ninguém nem por decreto. Mas com os cuidados do lar  sim.
Antigamente a chegada de um filho em uma família era vivenciada e dividida por muitas outras.
As famílias eram maiores, o volume de tias, primas, irmãs era suficiente para a mulher viver a quarentena intensamente.
Os cuidados com a puérpera, sua casa e higiene do bebê passavam a ser responsabilidade coletiva.  Até os vizinhos participavam e nos quarenta dias pós parto a mulher só se levantava da cama para necessidades fisiológicas e higiênicas. O resto do tempo ela descansava e dava de mamar.
Não que eu quisesse ficar quarenta dias na horizontal com parentes cozinhando, lavando roupa e dando banho no Ian por mim, mas eu poderia ter minimizado meu cansaço e solidão com a ajuda  de quem me quer bem.
Deveria existir uma cidade das puérperas.
A cidade se chamaria "Puerperlândia".
É para lá que todas nós deveríamos seguir depois de parirmos nossos filhos.
Cheguei a conclusão sobre a necessidade desta cidade outro dia ao ouvir "Os Saltimbancos" na deliciosa e divina companhia de Ian.
Tem uma música que fala sobre a cidade ideal de cada bicho. A galinha diz por exemplo que "a cidade ideal das galinhas tem as ruas cheias de minhocas".
A cidade ideal das pós paridas tem muitas  praças com árvores, flores, mar e cachoeiras.
Na Puerperlândia, vivem além de nós, vários anjos e fadas que são encarregados em nos ajudar.
São eles quem nos acordam durante a madrugada quando nossos bebês acordam para mamar. Eles pegam o bebê no berço, colocam em uma nuvem que é aconchegada ao lado de nossos peitos onde eles mamam e depois voltam para seus berços esplêndidos carregados pelos anjos.
São também eles que cuidam de nossas roupas, limpeza de casa e comidas.
Pela manhã, as fadas do café da manhã nos avisam que a comida jé está servida. Então seguimos até uma mesa cheia de frutas, cereais, Leite Molico Total Cálcio, peito de peru defumado sem casca, pão integral com 12 grãos e muita água de coco.
As praças da Perperlândia são maravilhosas, o chão é lisinho para podermos empurrar os carrinhos com os bebês sem tremedeiras e trepidações ou não correr o risco de tropeços com Slings.
Nelas encontramos todas as amigas com seus bebês e compartilhamos experiências vividas.
Não precisaremos nem chorar as pitangas e gastar tempo lamentando sobre as dificuldades nos longos papos das praças.
Lá não há dificuldades.
Na cidade das puérperas, lágrimas: só de emoção.
Depois do passeio pela praça onde o sol brilha em uma intensidade amena durante todo o dia para não tostar nossas crias e as fadas nos oferecem água ou chá de erva doce gelado a cada 20  minutos, as fadas do berçário levam os bebês para uma soneca de 3 horas até a próxima mamada enquanto as mães vão fazer ginástica para fortalecer os braços, alinhar a coluna e alongar GERAL.
Eu certamente nadaria 2000 metros depois de fazer uma Yoga, musculação e longas caminhadas.
Depois do nosso banho as fadas do berçário devolveriam os bebês para o mamá do meio dia que seria dado em frente ao mar.
Voltando para casa as fadas do almoço já teriam deixado o almoço todo a disposição para ser degustado vorazmente. Muita salada, arroz integral, feijão, legumes no vapor e Salmon ou peito de frango grelhado. Nada de gordura. E azeite, muito azeite !
De sobremesa sorvete da Stuzzi ou de qualquer marca que não tenha gorduras hidrogenadas.
Depois do almoço os anjos do banho preparariam a banheirinha com água na temperatura ideal para que eu pudesse banhar meu Ian antes da mamada das 15:00 hs.
Adoro dar banho!
Adoro vestir!
Adoro trocar fraldas.
Todas essas atividades continuariam sendo realizadas por mim com a assistência das fadas e anjos.
Depois das mamadas das 15:00 hs, juntos tiraríamos uma soneca deliciosa.
Papai já estaria nos acompanhando nesta etapa. Na Puerperlândia a jornada de trabalho dos maridos termina cedo.
Agora deixo a critério de vossas imaginações como seria o resto do dia na cidade das pós paridas. Eu tenho o meu roteiro muito claro em minha mente.
Certamente lá não existiria internet nem canais de televisão. Entrar em contato com a realidade nesta fase é difícil de mais.
Um bom monitor seria legal para assistir filmes Latinos e Europeus de arte.
E se Ian quisesse colo enquanto eu e Galdino assistíssemos um filme, os anjos do colo embalariam nosso amor suspenso em uma nuvem na sala de nossa casa da Puerperlândia.
Foi delicioso sonhar durante essas mal traçadas porém criativas linhas de desejos puerperais.
Os 19 dias de férias que tive em Visconde de Mauá e Paúba com as deliciosas companhias de Galdino e Ian, meus amores,  foram divinos como minha descrição da Puerperlândia.
Não ter que cozinhar, lavar roupa, arrumar cama e quarto por vários dias ajuda bem na recuperação física e emocional de uma sequência de 4 longos meses de trabalho doméstico intenso.
Voltar para São Paulo e para a realidade "é que são elas".
É isso que estou vivendo agora. A volta a  mais uma  das mil realidades...
E como ela é fiel e presente, está me chamando nesse exato momento para a mamada antecipada da meia noite.
Mamada que havia sido abolida antes das férias, mas que voltou a fazer parte de nossas vidas depois de 2 noites por 8 horas seguidas  dormidas em Mauá...
As férias são deliciosas e amenizam uma série de "dores", mas como tudo na vida tem suas consequências, seus dois lados como as moedas dos cubanos.
Sobre isso podemos falar em um outro momento.
Sobre esse tema e vários outros em aberto que por este caminho ficaram, podemos falar em outra situação caso minha memória e organização (ou desorganização) cerebral permitam.
Agora preciso dar de mamar.
Para isso minha memória não falha jamais.
A natureza é sábia mas todas as moedas tem dois lados.


                                                                      
                                      
                                                          Fim de Tarde na  PUERPERLÂNDIA